O documentário (baseado no livro Naomi Klein) demonstra de forma cabal como as idéias têm conseqüências, sendo o mentor do neoliberalismo, o economista Milton Friedman, o principal responsável pelas “torturas” em escala societária. Este intelectual, formador na Escola de Chicago, é o principal alvo de críticas da escritora Naomi Klein. Não sem razão.
Um dos exemplos dados no documentário é o Chile. O país foi laboratório do neoliberalismo, experiência “bem sucedida”, executando o sistema previdenciário com uma calculadora financeira, operada por ex-alunos de Friedman(daí o apelido de Chicago Boys) e assassinando, matando, desaparecendo, violando, violentando, saqueando e torturando com a outra pata, diretamente comandada pelo general Augusto Pinochet.
Outros exemplos dados no documentário, posteriores ao caso do Chile, são a Argentina (na Era Menem, sendo que o desmonte começa quando José Alfredo Martínez de Hoz foi ministro de Economia da ditadura); incluindo-se no rol de exemplos do “choque”, ao governo anti regulador do republicano Ronald Reagan EUA (1981-1988) e da conservadora Margaret Thatcher na Inglaterra (1979-1990).
Esta doutrina (tortura mental, bombardeio midiático, rolo compressor ideológico) econômica produz desemprego, pobreza, aumenta o abismo social, pois concentra o capital nas mãos de corporações e enfraquece o poder estatal. Um dos artifícios da doutrina nefasta é mudar o foco quando as pessoas estão muito concentradas em algumas emergências, com preocupações em defender seus bens. Um cidadão em aflitos fica de olhos vendados e acaba diminuindo seu ponto de vista, apavorando-se da perda do mínimo, termina por entregar tudo (tal como a parábola dos nazistas entrando em Varsóvia, Polônia). Por isso usa-se dos desastres da natureza e de terrorismo psicológico sobre a população. Nestas horas, aproveita-se para “ajudar”, oferecendo convênios, empréstimos (como o do RS junto ao Banco Mundial) e o que parece um “auxílio” torna-se caminho de mão única rumo ao despenhadeiro societário, reforçando as teses de “não há alternativa” e de “pensamento único” pró-mercado. A regra é sempre a mesma, e funciona. Escondem-se as relações causais, oculta-se as premissas de pensamento aplicando equações e modelos matemáticos como tradução de teoremas das ciências sociais e passa a ser “saber técnico” quando na verdade trata-se de disputa por recursos coletivos.
A Doutrina do Choque é documentário essencial para compreender o quanto o neoliberalismo afeta a esfera econômica. O mesmo procedimento faz desta doutrina o principal argumento para legitimar a farsa com nome de crise, enfraquecendo as possibilidades do estabelecimento de uma política voltada para o bem da sociedade.